Publipt! Clique Aqui!

sexta-feira, 11 de junho de 2010

As profissões de minha mãe

Minha mãe foi, com certeza, a mulher que mais profissões exerceu emtoda sua longa vida, sem ter sequer concluído o curso fundamental. Tudo que ela aprendeu foi nas primeiras quatro séries que cursou,quando criança. Contudo, era de uma sabedoria sem par. Descobri que minha mãe era uma decoradora de grandes qualidades, àmedida que eu crescia e observava que ela sempre tinha um local nomelhor móvel da casa, para as pequenas coisas que fazíamos naescola, meu irmão e eu. Em nossa casa, nunca faltou espaço para colocar os quadrinhos, osdesenhos, os nossos ensaios de escultura em barro tosco. Tudo, tudo ganhava um espaço privilegiado. E tudo ficava lindo, nolugar que ela colocava. Descobri que minha mãe era uma diplomata, formada na melhor escolado mundo (nosso lar), todas as vezes que ela resolvia os pequenosconflitos entre meu irmão e eu. Fosse a disputa pela bicicleta, pela bola, pelo último bocado detorta, de forma elegantemente diplomática ela conseguia resolver. Ea solução, embora pudesse não agradar os dois, era sempre a maisviável, correta, honesta e ponderada. Descobri que minha mãe era uma escritora de raro dom, quando euprecisava colocar no papel as ideias desencontradas de minhacabecinha infantil. Ela me fazia dizer em voz alta as minhas ideias e depois ia meauxiliando a juntar as sílabas, compor as palavras, as frases, paraque a redação saísse a contento. Descobri que minha mãe era enfermeira, com menção honrosa, todavez que meu irmão e eu nos machucávamos. Ela lavava os joelhos ralados, as feridas abertas no roçar do aramefarpado, no cair do muro, no estatelar-se no asfalto. Depois, passava o produto antisséptico e sabia exatamente quandodevia usar somente um pequeno band-aid, o curativo ou a faixa degaze, o esparadrapo. Descobri que minha mãe cursara a mais famosa Faculdade dePsicologia, quando ela conseguia, apenas com um olhar, descobrir aarte que tínhamos acabado de aprontar, o vaso que tínhamosquebrado. E, depois, na adolescência, o namoro desatado, a frustração de umpasseio que não deu certo, um desentendimento na escola. Era uma analista perfeita. Sabia sentar-se e ouvir, ouvir e ouvir.Depois, buscava nos conduzir para um estado de espírito melhor,propondo algo que nos recompusesse o íntimo e refizesse o ânimo. Era também pós-graduada em Teologia. Sua ciência a respeito deDeus transcendia o conteúdo de alguns livros existentes no mundo. O seu era o ensino que nos mostrava a gota a cair da folha verde namanhã orvalhada e reconhecer no cristal puro, a presença de Deus. Que nos apontava a fúria do temporal e dizia: Deus vela. Não sepreocupem. Que nos alertava a não arrancar as flores das campinas porqueestávamos pisando no jardim de Deus. Um jardim que Ele nos cederapara nosso lazer, e que devíamos preservar. Ah, sim. Ela era uma ecologista nata. E plantava flores e vegetaiscom o mesmo amor. Quando colhia as verduras para as nossasrefeições, dizia: Não vamos recolher tudo. Deixemos um pouco paraos passarinhos. Eles alegram o nosso dia e merecem o seu salário. Também deixava uns morangos vermelhinhos bem à mostra no canteiroexuberante, para que eles pudessem saboreá-los. Era sua forma de manifestar sua gratidão a Deus pelos Seus cuidados:alimentando as Suas criaturinhas. Minha mãe, além de tudo, foi motorista particular. Não se cansavade ir e vir, várias vezes, de casa para a escola, para a biblioteca,para o dentista, para o médico, para o teatro e de volta para casa. Também foi exímia cozinheira, arrumadeira, passadeira, babá. Etudo isto em tempo integral. Como ela conseguia, eu não sei. Somente sei que agora ela está naEspiritualidade. E Deus, como recompensa, por tantas profissõesdesempenhadas na Terra, lhe deu uma missão muito, muito especial: ade anjo guardião dos filhos que ficaram na bendita escola terrena. Redação do Momento Espírita. Disponível no CD Momento Espírita, v. 12, ed. Fep.

Nenhum comentário: