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sexta-feira, 10 de junho de 2011

A missão da maternidade

O Bispo de La Serena, Chile, Dom Ramon Angel Jara, teve oportunidade
de escrever um texto muito poético que diz:

Uma simples mulher existe que, pela imensidão de seu amor, tem um
pouco de Deus.

Pela constância de sua dedicação, tem muito de anjo. Que, sendo
moça, pensa como uma anciã e, sendo velha, age com as forças todas
da juventude.

Quando ignorante, melhor que qualquer sábio desvenda os segredos da
vida.

Quando sábia, assume a simplicidade das crianças. Pobre, sabe
enriquecer-se com a felicidade dos que ama. Rica, sabe empobrecer-se
para que seu coração não sangre ferido pelos ingratos.

Forte, estremece ao choro de uma criancinha. Fraca, se revela com a
bravura dos leões.

Viva, não lhe sabemos dar valor porque à sua sombra todas as dores
se apagam.

Morta, tudo o que somos e tudo o que temos daríamos para vê-la de
novo, e dela receber um aperto de seus braços, uma palavra de seus
lábios.

Não exijam de mim que diga o nome dessa mulher, se não quiserem que
ensope de lágrimas esse álbum. Porque eu a vi passar no meu caminho.

Quando crescerem seus filhos, leiam para eles esta página. Eles lhes
cobrirão de beijos a fronte. Digam-lhes que um pobre viandante, em
troca da suntuosa hospedagem recebida, aqui deixou para todos o
retrato de sua própria mãe.

Na atualidade, a mulher assumiu muitos papéis. Lançou-se no mundo e
se transformou na operária, juíza, cientista, professora, militar,
policial, secretária, empresária, presidente, general e tudo o mais
que, no passado, era privilégio do homem.

A mulher se tornou em verdade uma super-mulher que, além dos
afazeres domésticos, conquistou o seu espaço no mercado de
trabalho.

Naturalmente, não para competir com o homem, mas para somar com ele,
pois dos esforços de ambos resulta o sustento e o bem-estar da
família.

A rainha do lar se transformou na mulher que atua e decide na
sociedade.

Das quatro paredes do lar para o palco do mundo. Contudo, essa mulher
senadora, escriturária, deputada, médica, administradora de empresa
não perdeu a ternura.

Ela prossegue a acolher em seu ninho afetivo o esposo e os filhos.

Equilibrada e consciente, ela brilha no mundo e norteia o lar. Embora
interprete muitos papéis, ela não esqueceu do seu mais importante
papel: o de ser mãe.

* * *

Dentre todas as mulheres que se projetaram no mundo, realizando
grandes feitos, a nossa lembrança recua no tempo buscando uma mulher
especial.

A história não lhe registra grandes discursos, mas o Evangelho lhe
aponta gestos e palavras que valem muito mais.

Mãe de um filho que revolucionou a História, manteve-se firme na
adversidade, na dor, exemplificando o que Ele ensinara.

Não deixou testamento, riquezas ou haveres mas legou à Humanidade a
excelente lição da mulher que gera o filho, alimenta-O e O entrega
ao mundo para servir ao mundo.

Seu nome era Maria... Maria de Nazaré.

Redação do Momento Espírita, com base no artigo Um poético e
autêntico retrato de uma genitora – nossa homenagem à toda
mulher-mãe, do jornal Correio fraterno do ABC, de maio de 2000 e no
texto Retrato de mãe, de Dom Ramon Angel Jara, Bispo de La Serena,
Chile, tradução de Guilherme de Almeida.

Em 29.04.2011.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Senhor e Mestre

Inigualável. Senhor das estrelas. Senhor dos Espíritos.

Iniciou Sua jornada, na Terra, num berço de palha, improvisado por
Seu pai.

Fez-Se frágil, num corpo de criança, como todos os Seus irmãos, na
Terra.

Demonstrando o valor do amor, confiou-Se à guarda de uma mulher. Sua
mãe.

Em seu seio Se aninhou, alimentou-Se e recebeu carinho.

Sábio dentre todos os sábios, obedecendo ao costume de Israel,
aprendeu de Seu pai o ofício da carpintaria, moldando a madeira com
Suas mãos abençoadas.

Conhecedor da Lei, que Ele próprio viera ensinar, submeteu-Se à
frequência à sinagoga local, como todos os meninos de Sua idade.

Mais de uma vez, apresentou questões de alta filosofia e ciência,
numa demonstração do quanto sabia, bem como desejando assinalar, de
forma clara, que muito mais saber havia para ser aprendido, não sendo
os homens os detentores de toda a sabedoria.

Mestre o foi, sempre. Portador de entendimento pedagógico, como
ninguém mais, conhecedor da alma das Suas ovelhas, lançou sementes
aqui e acolá, de forma sutil, muito antes de iniciar o Seu
Messianato.

Quando o tempo se fez, deixou a casa simples de Nazaré, onde
crescera, olhou os campos e as colinas, e buscou as estradas do
mundo.

A partir de então, condutor de um imenso rebanho de Espíritos, não
teria uma pedra para repousar a cabeça.

Onde passou, fez amigos, lecionando que o homem foi feito para viver
em sociedade. E viver bem com todos.

Granjeou amigos entre os pobres, os ricos, os doentes e os que
esbanjavam saúde, moços e velhos.

Não deixou de buscar ovelhas desgarradas em terras estranhas,
distribuindo Suas bênçãos, em nome do amor que representava.

Curou cegos, afirmando que é preciso ter olhos de ver.

Libertou ouvidos do silêncio, conclamando que era preciso ter
ouvidos de ouvir.

Cada gesto, um ensino. Nada desperdiçado.

Devolveu movimentos a paralisados, lucidez a perturbados. E o convite
era de, dali em diante, o agraciado fazer o melhor, para conquistar
felicidade.

Não Se entristeceu por viver entre os homens. A nota melancólica
que cantou foi somente pela dureza dos corações, pois prescrevia
que a cada um seria dado segundo suas obras, antevendo as dores dos
que semeavam espinhos em suas jornadas.

Iniciou Sua missão abençoando, com Sua presença, a união de dois
seres, na constituição de uma nova família.

Como convidado, nos banquetes do mundo, serviu-Se das oportunidades
para distribuir a Sua luz a todos os convivas.

Entregou-Se, no momento oportuno, ao martírio, como um cordeiro ao
sacrifício.

Da mesma forma que o berço foi Lhe improvisado o túmulo, para o
depósito do corpo, por um amigo conquistado para o Seu Reino.

Apresentando-Se glorioso aos discípulos, após a morte, num atestado
da Imortalidade, despediu-Se num dia de luz, na mesma Galileia onde
entoara o mais belo canto que a Humanidade jamais ouvira.

E nos aguarda, no Seu Reino de bênçãos, amando-nos ainda e sempre.

Jesus, Mestre e Senhor. Caminho, Verdade e Vida.

Sigamo-lO.

Redação do Momento Espírita.

Em 20.12.2010.

Trégua de Natal

Era noite de Natal de 1944. O menino e a mãe moravam em uma cabana
na Alsácia, perto da fronteira Franco-alemã. O pai fora convocado
para o Corpo de Bombeiros da Defesa Civil da cidade, que distava seis
quilômetros.

Enviar o filho e a esposa para a floresta lhe tinha parecido uma boa
ideia. Acreditou que ambos estariam a salvo.

Então, bateram à porta. A senhora foi abrir. Do lado de fora, como
fantasmas contra as árvores cobertas de neve, estavam dois homens de
capacetes de aço.

Um deles falou em uma língua estranha. Apontou para um terceiro
vulto que jazia na neve.

Rapidamente, a mulher entendeu. Eram soldados americanos. Difícil
dizer se eram amigos ou inimigos.

Eles estavam armados e poderiam ter forçado a entrada. No entanto,
estavam ali parados, suplicando com os olhos.

Nenhum deles compreendia o alemão. Mas um deles entendia o francês.

A um sinal da mulher, entraram na casa conduzindo o ferido. O filho
foi buscar neve para esfregar nos pés azuis de frio de todos eles.

O ferido estava com uma bala na coxa. Havia perdido muito sangue.

Eram três meninos grandes, de barba crescida: Gary, Fred e Mell.

Ema pediu ao filho que fosse buscar Schultz, o galo. Ela o estava
guardando para quando o marido voltasse para casa. Talvez no Ano
Novo. Mas agora Schultz serviria a um objetivo imediato e urgente.

Dali a pouco o aroma tentador do galo assado invadia a sala.

O menino punha a mesa quando bateram de novo à porta. Esperando
encontrar mais americanos, depressa ele foi abrir.

O sangue lhe gelou nas veias. Lá estavam quatro soldados usando
fardas muito conhecidas, depois de cinco anos de guerra. Eram
alemães.

A pena por abrigar soldados inimigos era crime de alta traição. O
garoto ficou parado, gélido, sem reação.

Ema se aproximou. Com calma nascida do pânico, ela desejou Feliz
Natal.

Podemos entrar? - Perguntou o cabo alemão. Era o mais velho deles:
23 anos. Os outros tinham somente 16 anos.

Sim. - Falou Ema. E também poderão comer até esvaziar a panela.
Mas temos três convidados que vocês poderão não considerar
amigos.

Hoje é dia de Natal e não vai haver tiroteio. Coloquem todas as
armas sobre a pilha de lenha.

Os quatro ficaram olhando para ela, indecisos.

Nesta noite única, - ela continuou - nesta noite de Natal, vamos
esquecer a matança. Afinal de contas, vocês todos poderiam ser meus
filhos. Hoje à noite não há inimigos.

Os soldados obedeceram. Entraram.

Os americanos também entregaram as armas, que foram parar em cima da
mesma pilha de lenha.

Alemães e americanos se aglomeraram, tensos, na sala apertada.

Sem deixar de sorrir, Ema providenciou lugar para todos se sentarem.

Ela aumentou a ceia com aveia e batatas, um pão de centeio.

Um dos alemães examinou o ferido. A calma foi substituindo a
desconfiança.

Com os olhos cheios de lágrimas, Ema pronunciou a oração: Senhor
Jesus, Amigo e Mestre, sê nosso hóspede.

Em volta da mesa, havia lágrimas também nos olhos cansados da luta
daqueles soldados. Meninos outra vez, uns da América, outros da
Alemanha, todos longe dos seus lares.

No dia seguinte, eles tomaram das armas e cada grupo partiu para um
rumo diferente, depois de terem se apertado as mãos em despedida.

Então, Ema entrou. Abraçada ao filho, abriu o Evangelho e leu na
página da história do Natal, o nascimento de Jesus, a chegada dos
magos vindos de longe.

Com o dedo ela acompanhou a última linha: ... E partiram para sua
terra por outro caminho.

* * *

Estamos vivendo as vésperas do Natal de Jesus.

Proponhamos nosso armistício particular. Isso mesmo. Pensemos em
alguém com quem nos tenhamos desentendido, magoado, ferido.

Agora é a hora de estender a mão, de perdoar, de abraçar.

Em nome de um Menino que veio pregar a paz e o amor.

Pensemos nisso! Mas pensemos agora!

Redação do Momento Espírita, com base no cap. Quatro horas, do
livro Remotos cânticos de Belém, de Wallace Leal Rodrigues, ed. O
clarim.

Em 21.12.2010.

A mãe de Jesus

Ela crescera, tendo o Espírito alimentado pelas profecias de Israel.

Desde a meninice, quando acompanhava a mãe à fonte de água, para
apanhar o líquido precioso, ouvia os comentários.

Entre as mulheres, sempre que se falava a respeito, perguntavam-se
umas às outras, qual seria o momento e quem seria a felizarda, a
mãe do aguardado Messias.

Nas noites povoadas de sonhos, era visitada por Mensageiros que lhe
falavam de quefazeres que ela guardava na intimidade d’alma.

Então, naquela madrugada, quase manhã do princípio da primavera,
em Nazaré, uma voz a chamou: Miriam. Seu nome egípcio-hebraico,
significa querida de Deus.

Ela despertou. Que estranha claridade era aquela em seu quarto? Não
provinha da porta. Não era o sol, ainda envolto, àquela hora, no
manto da noite quieta.

De quem era aquela silhueta? Que homem era aquele que ousava adentrar
seu quarto?

Sou Gabriel, identifica-se, um dos Mensageiros de Yaweh. Venho
confirmar-te o que teu coração aguarda, de há muito.

Teu seio abrigará a glória de Israel. Conceberás e darás à luz
um filho e lhe porás o nome de Jesus. Ele será grande e será
chamado filho do Altíssimo e o seu reino não terá fim.

Maria escuta. As palavras lhe chegam, repassadas de ternura e, pela
sua mente, transitam os dizeres proféticos.

Sente-se tão pequena para tão grande mister. Ser a mãe do Senhor.
Ela balbucia: Eis aqui a escrava do Senhor. Cumpra-se em mim segundo
a tua palavra.

O Mensageiro se vai e ela aguarda. O Evangelista Lucas lhe
registraria, anos mais tarde, o cântico de glória, denominado
Magnificat:

A minha alma glorifica o Senhor! E o meu Espírito exulta de alegria
em Deus, meu Salvador!

Porque, volvendo o olhar à baixeza da Terra, para a minha baixeza e
humildade atentou.

E eis, pois, que, desde agora, e por todos os tempos, todas as
gerações me chamarão bem-aventurada!

Porque me fez grandes coisas o Poderoso e santo é o seu nome!

E a sua misericórdia se estende de geração em geração, sobre os
que o temem. Com seu braço valoroso, destruiu os soberbos, no
pensamento de seus corações.

Depôs dos tronos os poderosos e elevou os humildes. Encheu de bens
os famintos e despediu vazios os ricos.

Cumpriu a palavra que deu a Abraão, recordando-se da promessa da sua
misericórdia!

Ela gerou um corpo para o ser mais perfeito que a Terra já recebeu.
Seus seios O alimentaram nos meses primeiros. Banhou-O, agasalhou-O,
segurou-O fortemente contra o peito mais de uma vez. E mais de uma
vez, deverá ter pensado:

Filho meu, ouve meu coração batendo junto ao teu. Dia chegará em
que não Te poderei furtar à sanha dos homens. Por ora, amado meu,
deixa-me guardar-Te e proteger-Te.

Ela Lhe acompanhou o crescimento. Viu-O iniciar o Seu período de
aprendizado com o pai, que lhe ensinou os versículos iniciais da
Torá, conforme as prescrições judaicas, embora guardasse a certeza
de que o menino já sabia de tudo aquilo.

Na Sinagoga, O viu destacar-Se entre os outros meninos, e assombrar
os doutores. O seu Jesus, seu Filho, seu Senhor. Angustiou-se mais de
uma vez, enquanto O contemplava a dormir. Que seria feito dEle?

Maria, mãe de Jesus. Mãe de todos nós. Mãe da Humanidade.
Agradecemos-te a dádiva que nos ofertaste e, ao ensejo do Natal, te
dizemos: Obrigado, mãe.

Redação do Momento Espírita, com base no cap. A mãe de Jesus, do
livro Personagens da Boa Nova, de Maria Helena Marcon, ed. Fep.

Em 22.12.2010.

Rei diferente

Ser rei significava, no passado, ser superior aos demais. Em alguns
casos, era a conquista de uma condição que se atribuía divina.

A personalidade real se conduzia como se tudo, à sua volta, lhe
devesse obediência e bajulação. Eternos no poder, pensavam alguns.

Contudo, bastava uma alteração dos ventos políticos ou uma
reviravolta no tonel das paixões dos adversários, e eram despidos
de todo o poder.

Houve quem se acreditasse o mais belo, o mais inteligente, o mais
perfeito. Houve quem se intitulasse o rei sol, em torno do qual
deveriam estabelecer as suas órbitas os planetas das vaidades
humanas.

Disfarçavam-se com roupas exóticas e ricas, sem que elas lhes
pudessem ocultar as torpezas morais.

Em verdade, embora nem todos ostentem coroas de ouro e pedras
preciosas, muitos dos que detêm o poder, ainda hoje apresentam
algumas dessas expressões comportamentais.

E, contudo, as insígnias do poder continuam a se transferir de um
para outro, ao sabor dos caprichos humanos.

* * *

Ele, no entanto, é um Rei diferente.

Seu reino não é deste mundo. Expande-se muito além das fronteiras
físicas e é mais rico do que todos os reinos da Terra juntos.

Seu reinado abrange o território ilimitado da intimidade das
criaturas. São as paisagens e regiões do sentimento, onde podem ser
colocadas as balizas da fraternidade.

Os Seus interesses são os do Pai que O criou. Neste mundo de formas
transitórias, Ele figura acima das disputas mesquinhas de teor
material.

Sua coroa e Seu cetro são o amor. Indestrutível no tempo. Seus
seguidores, ao longo dos séculos, foram queimados, torturados, sem
que desistissem dos tesouros da alma de que eram depositários
fiéis.

Esse Rei tão poderoso escreveu a legislação do Seu Reino, de forma
indelével, nos corações e nas mentes.

Por isso, os anos se somaram e a verdade continua chegando aos
ouvidos que desejam ouvir, no idioma de cada um, porque ditada com a
força da verdade.

Rei solar, tomou de uma roupagem semelhante a de todos os Seus
súditos e viveu entre eles, durante um pouco mais de três décadas.

Mas extrapolou as fronteiras da nação que O recebeu e atravessou as
idades, sem ter empanado o brilho da Sua vitória.

Ele venceu a morte e o mundo. Os homens O desejaram destruir,
matando-Lhe o corpo físico. Ele retornou, cheio de luz, conforme
anunciara, em uma indumentária indestrutível.

Ao contrário de todos os que reinam e reinaram sobre homens, Ele
informou que viera para servir.

E realizou tarefas consideradas humilhantes, à época, quais a de
lavar os pés de todos os Seus apóstolos, em célebre noite de
despedida.

Inteligência superior a todas as que já passaram por este planeta,
soube falar às gentes, com doçura, ensinando a verdade que liberta
e torna felizes as criaturas.

Senhor dos Espíritos, demonstrou por atos e manifestou por palavras
de que estava na Terra para cumprir a vontade de Deus, Pai dos céus,
Criador do Universo.

Este Rei se chama Jesus. E, embora tenha partido da Terra, há mais
de dois mil anos, a gratidão e a esperança dos homens comemoram Seu
aniversário todos os anos.

Rei solar. Senhor dos Espíritos. Pastor de almas. Servidor.

Jesus, o Cristo.

Redação do Momento Espírita.

Semeando rosas

Uma Rainha de Portugal, de nome Isabel, ficou conhecida por sua
bondade e abnegada prática da caridade.

Ocorre que seu marido, o Rei D. Diniz não gostava das excursões da
Rainha, pelas ruas da miséria.

Muito menos das distribuições que ela fazia entre os pobres. Não
podia admitir que uma mulher nobre deixasse o trono das honras
humanas para se misturar a uma multidão de doentes, famintos e mal
vestidos.

A bondosa Rainha, no entanto, burlava a vigilância de soldados e
damas de companhia e buscava a dor nos casebres imundos, levando de
si mesma e de tudo o mais que pudesse carregar do palácio.

Não levava servas consigo, pois isto seria pedir a elas que
desobedecessem às ordens reais.

Era humilhante, segundo o seu marido, o que ela fazia. Como uma
Rainha, nascida para ser servida, realizava o trabalho de criados,
carregando sacolas de alimentos, roupas e remédios?

Certo dia, ele mesmo a foi espreitar. Resolveu surpreendê-la na sua
desobediência. Viu quando ela adentrou a despensa do palácio e
encheu o avental de alimentos.

Quando ela se dirigia para os jardins do palácio, no intuito de
alcançar a estrada poeirenta, nos calcanhares da fome, ele saiu
apressadamente do seu esconderijo e perguntou:

Aonde vai, senhora?

Ela parou, assustada no primeiro momento. E, porque demorasse para
responder, ele alterou a voz e com ar acusador, indagou:

O que leva no avental?

Levemente ruborizada, mas com a voz firme, ela finalmente respondeu:

São flores, meu senhor!

Quero ver! Disse o rei, quase enraivecido, por sentir que estava
sendo enganado.

Ela baixou o avental que sustentava entre as mãos e deixou que o seu
conteúdo caísse ao chão, num gesto lento e delicado.

Num fenômeno maravilhoso, rosas de diferentes tonalidades e
intensamente perfumadas coloriram o chão.

Consta que o Rei nunca mais tentou impedir a rainha da prática da
caridade.

* * *

Para quem padece as agruras da fome, sentindo o estômago reclamar do
vazio que o consome; para quem ouve, sofrido, as indagações dos
filhos por um pedaço de pão, umas colheres de arroz, a cota de
alimento que lhes acalme as necessidades é semelhante a um frasco de
medicação poderosa.

Para quem esteja atravessando a noite da angústia junto ao leito de
um filho delirando em febres, as gotas do medicamento são a
condensação da esperança do retorno à saúde.

Para quem sente as garras afiadas do inverno cortar-lhe as carnes,
receber uma manta que o proteja do vento gélido é uma ventura.

Por isso, quem leva pães, agasalho e conforto é portador de flores
perfumadas de vários matizes.

* * *

Há muitos que afirmam que dar coisas é alimentar a preguiça e
fomentar acomodação.

Contudo, bocas famintas e corpos enfermos não podem prescindir do
alimento correto e da medicação adequada.

Se desejarmos os seres ativos, envolvidos com o trabalho, preciso é
que se lhes dê as condições mínimas. Não se pode ensinar a
pescar alguém que sequer tem forças para segurar a vara de pesca.

Redação do Momento Espírita.

Em 27.12.2010.