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segunda-feira, 15 de março de 2010

Perante o mal



A lei de talião representou um progresso nos costumes da Humanidade.

Em decorrência dela, a vingança passou a ter limites.

Antes, por conta de uma ofensa, considerava-se justo dizimar toda a
família do ofensor.

Depois, passou a ser olho por olho e dente por dente.

Ou seja, o mal que se retribuía não podia ser maior do que o
recebido.

Jesus Cristo veio trazer a contribuição definitiva nessa seara.

Assentou que não se deveria resistir ao mal.

Que se alguém batesse na face direita, era preciso oferecer também
a esquerda.

Que se alguém tomasse a vestimenta, convinha deixar também a capa.

Que se alguém obrigasse a andar uma milha, era para andar com ele
duas.

São palavras fortes e plenas de simbolismo.

Por certo não significam se deva permitir que a agressividade e a
violência tomem conta da Terra.

Não constituem autorização ou incentivo a que os fracos se
transformem em besta de carga dos fortes.

Seu significado profundo parece ser o de que apenas o amor é
eficiente no enfrentamento com o mal e os maus.

O revide, o ressentimento e o desejo de vingança apenas prolongam os
desequilíbrios humanos.

Sob a égide do Cristo, deve instalar-se uma nova ordem de paz e
generosidade.

O discípulo de Jesus é pacífico e pacificador.

Ele é manso, compreensivo, ordeiro e confiante na Justiça Divina.

Perante uma ofensa, em geral três condutas são possíveis: revidar,
fugir ou oferecer a outra face.

O revide implica a continuação da luta e do desequilíbrio.

A fuga transfere o clima de ódio para solução futura e denota
fraqueza moral, que estimula o violento.

A última alternativa é sem dúvida a mais difícil.

Perante a ofensa, oferecer a face contrária, a do perdão.

Esse ato de grandeza, consistente na imediata compreensão do
desequilíbrio que há em qualquer ato mau, desestabiliza o agressor.

De repente, ele se vê lamentável como é, perante a serenidade do
ofendido.

A violência tende a morrer asfixiada no algodão da paz que envolve
quem ama.

É impossível vencer alguém com grandeza moral.

Em face dele, toda vitória é aparente e com sabor de cinzas.

Alguém em paz e pronto a desapegar-se da manta e da capa.

Que tem paciência e caminha mais do que o solicitado ao lado de quem
lhe impõe o esforço.

Certamente não é fácil adotar esse gênero de conduta.

Entretanto, Jesus não apenas ensinou, como exemplificou.

Soube doar-Se em holocausto e Sua proposta vitoriosa segue
transformando lentamente a Humanidade.

E é Dele o convite que ressoa através dos séculos:

Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz
e siga-me!

Redação do Momento Espírita, com base no cap. 13 do livro 

A mensagem do Amor Imortal, pelo Espírito Amélia Rodrigues,

psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal.

Presente sem igual


Ele era um foragido. Um judeu em meio ao tormento da Segunda Guerra
Mundial.

Todos os dias sua consciência o acusava de covardia. Covardia moral
por ter abandonado sua mãe, seus primos, quando lhe foi acenada a
possibilidade de sobreviver, ocultando-se.

Por que somente ele? – Perguntava-se diariamente.

E todos os dias se desculpava com o casal que o mantinha escondido no
porão frio naquele inverno interminável.

Desculpava-se por ter pensado mais na própria vida do que no risco a
que expusera ambos, ao pedir asilo.

E havia a criança. Uma adorável menina que acabara de completar 12
anos.

Naqueles dias de tanta carestia, ela ganhara do pai um livro usado.
Que tesouro!

Ele, o sobrevivente, se desculpara por não lhe dar nada. Afinal,
nada tinha de seu.

Liesel, a garota encantadora, se aproximara e enrodilhara os braços
em torno do pescoço dele:

Obrigada, Max.

Ela era a aniversariante e ele ganhava o presente.

Ao contato daquele abraço, ele levantou as próprias mãos e as
encostou nos ombros de Liesel.

Aquele abraço lhe falava de afeto, família, carinho. Tudo tão
distante, perdido na névoa dos meses, do medo e das incertezas
diárias.

Nos dias que se seguiram, ele decidiu que lhe daria um presente.

Por isso, tomou do livro escrito por Hitler, que recebera para se
instruir e destacou 40 páginas.

Imaginou que precisaria de 13, mas como deveria cometer alguns erros,
resolveu se prevenir com maior número.

Da pilha de latas de tinta que o ocultava, destacou uma, abriu-a e
pintou cada uma das páginas, deixando-as a secar em um varal
improvisado.

Na sequência da semana, ele desenhou e escreveu a história de um
fugitivo. A sua história.

E de seu encontro com uma menina que lhe ofereceu afeição. A ele,
um judeu em terreno alemão.

As páginas receberam dois furos na margem, feitos à faca e depois
foram unidas com barbante.

Então, numa madrugada silente, ele deixou seu esconderijo, subiu os
degraus, foi ao quarto da menina e depositou a preciosidade ao lado
da cama.

Ao despertar, vencendo o medo e o frio, ela desceu os degraus da
escada. Embora não passasse de alguns metros, a distância pareceu
de quilômetros.

O coração lhe batia descompassado no peito. Ela colocou sua mão no
ombro dele, que dormia.

Não o despertou. Sentou-se, reclinou a cabeça, dobrando-se sobre si
mesma e continuando com a mão no ombro dele, deixou-se ali ficar como
quem vela o sono de alguém precioso e inestimável.

Nascia naquele momento uma verdadeira e profunda amizade.

* * *

A afeição surge de formas inusitadas, em estranhas situações.

Percebê-la, manifestar gratidão e alimentá-la é decisão pessoal.

Por vezes, gestos pequenos expressam sentimentos profundos.

Pensemos nisso e prestemos maior atenção a detalhes que somente
parecem ser insignificantes.

Sobretudo, que haja sempre flores de gratidão no jardim das nossas
palavras, no sol do sorriso e nos gestos em retorno ao doador que nos
agracia com sua oferta.

Pensemos nisso...

Redação do Momento Espírita, com base na pt. IV do

livro A menina que roubava livros, de 

Markus Zusak, ed. Intrínseca.

Julgamentos precipitados


Quantas vezes já aconteceu?

Um servidor dedicado, após anos de trabalho irrepreensível, comete
um deslize. Logo, todos os tantos anos de dedicação são
esquecidos.

Sobre ele recaem acusações, desconfianças.

Um amigo de infância, adolescência, juventude, alguém com o qual
rimos, choramos, confiamos, comete uma pequena falha.

Diz-nos um não. É o suficiente.

Anos de convivência são sepultados de um só golpe.

Um voluntário, que serve dedicada e perseverantemente meses, anos,
sempre sorridente, feliz, um dia, por algo que lhe ocorre e o
perturba, se exaspera, fala mais alto.

Logo, tudo que fez até então é esquecido e somente aquele gesto de
um momento de irreflexão é apontado, falado, julgado.

São retratos da vida. Ocorrem em muitos lugares.

E nos fazem recordar de uma história muito interessante.

A de um pai que desejava ensinar aos seus quatro filhos a respeito de
julgamentos.

Assim, a cada um enviou em uma estação diferente do ano a uma terra
distante para observar uma determinada árvore.

O primeiro filho chegou no inverno, o segundo na primavera, o
terceiro no verão e o quarto no outono.

O primeiro informou que a árvore era feia, além de seca e toda
distorcida.

O segundo disse que, ao contrário, a árvore estava carregada de
botões, cheia de promessas.

O outro filho contestou aos dois irmãos e afirmou que viu a árvore
coberta de flores. Que elas tinham um cheiro tão doce e eram tão
bonitas, que ele arriscaria dizer que eram a coisa mais graciosa que
ele jamais havia visto.

Finalmente, o quarto filho falou que a árvore estava tão cheia de
frutas, tão carregada de vida, que chegava estar arqueada.

O pai, ponderado, explicou que todos estavam certos, no entanto, cada
um deles julgara a árvore exatamente pela época do ano em que a
haviam visto.

Na vida, continuou, também é assim. Quase sempre somos precipitados
nos julgamentos.

Para julgar com acerto, compete-nos observar com atenção, colher
informações detalhadas.

* * *

Dessa forma, não julguemos situações e pessoas por um momento
apenas.

Consideremos que todos passamos pelos dias desolados do inverno. Dias
de tristeza, de solidão, de problemas superlativos.

Nessa estação da vida, parecemos árvores de galhos retorcidos.

Contudo, quando a esperança faz morada na intimidade, carregamo-nos
de promessas, de botões prontos a explodirem em flores.

Então, acenamos com cores vibrantes, flores perfumadas, graciosas
que, logo mais, se transformarão em produção abundante de frutos.

Pensemos nisso e não façamos julgamentos precipitados de
situações, de pessoas, de companheiros, de amigos.

Verifiquemos, antes, em que estação do ano estagia a alma de quem
vamos julgar.

E, se descobrirmos que o inverno envolve aquela criatura, estendamos
a contribuição do sol da nossa amizade, o adubo do nosso auxílio,
a proteção do nosso carinho.

Pensemos nisso.

Redação do Momento Espírita, com base 

no texto A pereira, de autoria desconhecida.

Em 15.03.2010.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Amizade se escreve assim


Foi durante a Primeira Grande Guerra. Eles eram jovens e a amizade
que os unia tinha a ver com alguns momentos de lazer, de música e,
sobretudo, de sobrevivência.

Ele não poderia esquecer que devia sua vida a um judeu alemão
chamado Erik.

Um ano mais velho que ele próprio, Erik ensinou Hans a tocar
acordeão.

Certo dia, o sargento entrou no alojamento perguntando quem tinha
letra bonita.

O capitão precisava que fossem escritas umas 12 cartas. Ele estava
com reumatismo ou artrite ou algo parecido e não podia escrevê-las.

Ninguém se voluntariou. Erik, no entanto, resolveu indicar o amigo.
Falou que ele tinha caligrafia impecável.

Em verdade, a capacidade de redação de Hans era reduzida. Mas ele
escreveu as cartas, enquanto o restante dos homens entrava em
combate.

Nenhum deles voltou. O corpo de Erik foi encontrado em vários
pedaços, numa colina cheia de relva.

Hans guardou o acordeão do amigo e o levou consigo, durante toda a
guerra.

Ao regressar para casa, localizou a família de Erik para devolver o
instrumento.

A viúva não o quis. Olhar para o instrumento musical lhe trazia
memórias ainda mais nítidas do tempo em que ela e o marido davam
aulas de música.

Hans tocou para ela, enquanto ela chorava, em silêncio.

Num papel, Hans escreveu seu nome e endereço.

Sou pintor profissional. Pinto seu apartamento de graça, quando a
senhora quiser.

Hans se foi, logo após descobrir que Erik deixara um filho pequeno
de nome Max.

Mais de 20 anos se passaram. Com a chegada da Segunda Guerra Mundial
e a perseguição aos judeus, Max foi ocultado em um depósito por
meses a fio, por um amigo alemão.

Contudo, o perigo aumentava dia a dia. Era preciso sair dali.

Max lembrou de Hans, o amigo de seu pai. E da promessa feita a sua
mãe.

Sim, ela nunca precisara da pintura no apartamento. Mas ele precisava
de um abrigo.

Um contato foi enviado ao endereço de Hans. Semanas depois, veio a
informação: Hans ainda tocava acordeão, o do pai de Max.

Não era filiado ao Partido Nazista. Era pobre, casado e tinha uma
criança. Importante: ele lhe mandara um livro. Na capa interna, uma
chave. A chave de sua casa.

Assim, nas primeiras horas de uma madrugada silenciosa, na pátria do
nazismo, um jovem judeu chegou à casa de Hans.

Colocou a chave na fechadura, entrou na cozinha.

Hans despertou. Desceu os degraus, no escuro.

No escuro encontrou o jovem fugitivo. Fez-lhe café para aquecê-lo.

Depois, o escondeu no porão.

Era uma situação aflitiva. Assustadoramente aflitiva.

Se Hans e a esposa fossem apanhados dando abrigo a um judeu, seriam
presos, condenados, talvez mortos.

Nunca mais veriam a criança... Mas Hans fizera uma promessa.

Devia sua vida ao pai daquele jovem. Jamais poderia esquecer isso.

* * *

Amizade se escreve de muitas formas. Pode se escrever com l, de
lealdade, com g, de gratidão, com c, de coragem.

Mas, principalmente, com a, de amor, sentimento elevado sempre
presente nas almas nobres.

Pense nisso.

Redação do Momento Espírita, com base na pt. 4 do

livro A menina que roubava livros, de Markus Zusak, ed. Intrínseca.

Em 11.03.2010.